26 de set. de 2006

Sala Verde da Escola da Fazenda promove movimento de reflexão sobre a urbanização da planície do Campeche


A planície do Campeche, localizada na área sul da Ilha de Santa Catarina, vem sofrendo um processo de crescimento acelerado nos últimos anos, tendo um aumento vertiginoso de sua população por causa da migração de pessoas de várias cidades do Brasil para Florianópolis em busca de uma melhor qualidade de vida. A paisagem natural da planície é caracterizada por sua formação arenosa, resultante dos processos de avanço e recuo do nível do mar, formando assim dunas e cordões arenosos cobertos pela vegetação típica da restinga, e abrigando abaixo do subsolo um grande lençol freático, cujos afloramentos podem ser vistos na Lagoa Pequena e na Lagoa da Chica, além de várias outros pontos durante os períodos chuvosos.

O crescimento populacional e a decorrente especulação imobiliária dos bairros que formam a planície, sem os devidos cuidados de planejamento, como a questão do esgoto por exemplo (na região não existe sistema de tratamento) está resultando em uma série de danos que caminham para o agravamento da situação, podendo ser irreversíveis, como a contaminação do lençol freático, a falta de áreas de lazer, como praças e parques, a marginalização das comunidades mais carentes, a mobilidade toda voltada ao uso de automóveis, sem calçadas, acostamento e ciclovias na maioria das ruas, a falta de arborização e a pressão sobre o ecossistema nativo diminuindo perceptivelmente a biodiversidade.

Mesmo com todo esse quadro de risco ambiental, as ações realizadas para a “melhoria” da região mostram-se medidas superficiais que levam em conta apenas o conforto pontual de alguns enquanto os problemas mais graves ficam encobertos. Isso torna-se explícito quando o município desenvolve um projeto para a “urbanização” da região a partir do asfaltamento de algumas ruas, tendo um único projeto para todas as regiões da Ilha, sem levar em conta as peculiaridades de cada local, como o problema da impermeabilização do solo sobre uma área sedimentar que abriga um lençol freático. Estas mesmas ruas que estão sendo asfaltadas não prevêem o local para os pedestres e para as bicicletas, ou qualquer tipo de fiscalização de velocidade, tornando-se um risco para os moradores.

Para levantar estas discussões e conscientizar a população de que um planejamento para todos é preciso, a Sala Verde da Escola da Fazenda, em parceria com o Conselho Local de Saúde da Fazenda do Rio Tavares lançou, em abril deste ano, o Projeto Tapete Verde, que consiste em ocupar alguns pontos estratégicos da região, em que estão sendo feitas obras de “urbanização”, e através de um ato simbólico de plantação de algumas mudas de árvores nativas, chamar a população ao debate.

Para iniciar o movimento foram escolhidas 5 áreas estratégicas, dentro do bairro do Campeche. A solenidade de inauguração foi realizada em uma dessas áreas, onde foram plantadas 10 mudas de árvores nativas no dia 15 de abril (dia nacional da conservação do solo), o projeto foi apresentado e os responsáveis por cada uma das cinco áreas assinaram termos de compromisso responsabilizando-se por preparar e cuidar da sua respectiva área. O projeto tem o objetivo de ser permanente e se espalhar pelas mais diversas áreas, sempre com a finalidade de chamar a população à reflexão sobre o futuro da cidade.

Elisa Serena Gandolfo Martins
coordenadora da Sala Verde da Escola da Fazenda/Florianópolis-SC

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